Nasci, como qualquer pessoa, tendo
em mim a verdade máxima que toda e qualquer dor deve ser vivida com sofrimento
e angustia.
Passei os primeiros anos da minha
existência seguindo esta regra de maneira meio torta. Sentia dores físicas,
morais, espirituais. Enfim, as dores comuns à vida. Só não conseguia manter a atitude
necessária de sofrimento por muito tempo.
Chorava e me lamentava, por algumas
horas, raramente por mais de um dia. Logo voltava a sorrir, brincar e interagir
com o mundo. O que até hoje me vale a alcunha de louca.
Num determinado momento da vida
comecei a sentir-me constrangida por não conseguir, como as outras pessoas,
manter a atitude “correta” de sofrimento que a vida exigia. Era definitivo, era
inexorável: EU NÃO ERA NORMAL. Tentei fingir, não deu certo, logo um sorriso
teimoso se formava, ou um pensamento bem humorado aparecia como por encanto.
Em mim só havia uma certeza, a DOR
estava ali, firme e forte. Estivesse eu dormindo, trabalhando, estudando.
Fazendo o que quer que fosse. Às vezes me dilacerando o corpo, muitas vezes já
combalido por outras dores. Em outros momentos me trespassando o coração e
jogando minha alma num mar de tormenta.
Apesar disso estava lá eu de bom
humor, sorrindo.
Chegada a maturidade (talvez), o
aprendizado e a experiência espiritual, ouço outra verdade: “Dor e sofrimento
não precisam estar necessariamente juntos”. Dor é inevitável, acontecerá
sempre, já o sofrimento é sempre uma escolha.
Sabedora, em virtude das
experiências já vividas, que precisava meditar sobre o inusitado ensinamento, comecei
a questionar e observar. E através da observação e das inúmeras discussões que
mantive comigo mesma e com outras pessoas, concluo:
Dor é um processo que se dará sempre,
em virtude do inesperado e do não desejado. As doenças físicas trarão dor (às
vezes excruciantes), as vicissitudes da vida (dificuldades financeiras, de
relacionamentos familiares, sociais ou sentimentais, a inadequação a vida que
se leva) trarão dor, o inexorável (morte) trata dor.
E o SOFRIMENTO nada mais é que a atitude
que você toma diante da dor.
Podemos nos lamentar, chorar, puxar
os próprios cabelos, supliciar.
Podemos, também, nos revoltar,
culpar outros. Viver uma atitude de revolta, ódio ou rancor. Nada disso aliviará
a dor ou o fará desaparecer.
Essas atitudes, certamente intensificarão
as dores e as tornarão feridas abertas a “gotejar ácido” em nosso coração.
Mais tarde perceberemos que honramos
a dor com nossa própria vida. Em alguns casos notaremos que amarguramos nossas
vida e a vida daqueles que nos cercam e dos que tentaram nos ajudar.
Perceberemos então que os únicos lucros
do sofrimento são a solidão e a convivência constante com a dor.
Por tanto, se sofrimento é uma
opção, olhemos atentamente em volta desse vasto universo e vajamos as outras
opções que a sabedoria divina nos deixou.
Optemos por perceber que a “mãe dor”
é apenas o alerta do amor, de que criamos algo não saudável em nosso universo
pessoal. E se somos capazes de criar algo não saudável, mudemos nossa atitude,
assumamos a responsabilidade total sobre tudo que nos acontece e recriemos
nossa realidade a partir de uma nova atitude.
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